Manuel Angel Valenzuela Jimenez (2019) O efeito do sistema BFT no desempenho zootécnico e fisiológico do camarão branco do Atlântico Norte Litopenaeus setiferus cultivado em água marinha e água de baixa salinidade

O efeito do sistema BFT no desempenho zootécnico e fisiológico do camarão branco do Atlântico Norte Litopenaeus setiferus cultivado em água marinha e água de baixa salinidade

Autor: Manuel Angel Valenzuela Jimenez (Currículo Lattes)
Orientador: Dr Wilson Francisco Britto Wasielesky Junior
Co-orientador: Dra. Gabriela Gaxiola (UNAM/México)

Resumo

O camarão branco do Norte do Atlântico Litopenaeus setiferus é uma das espécies com maior valor comercial, no entanto a diminuição das suas populações naturais a coloca em uma situação ecologicamente sensível, não só para a sua produção, mas também para a sua conservação. L. setiferus é uma espécie que pode ser cultivada em diferentes ambientes, tanto em água marinha, ou de baixa salinidade, além disso, os avanços no desenvolvimento do Sistema BFT (Biofloc Technology – ou Sistema de Bioflocos) com camarões, permitem considerá-lo como uma alternativa para esta espécie. O sucesso deste sistema de cultivo está associado a uma intensa dinâmica bacteriana que participa no melhoramento da qualidade da água e na produção de proteína microbiana, isto tem consequência lógica sobre o estado fisiológico geral dos organismos. Esta espécie tem boa sobrevivência cultivada em água marinha ou de baixa salinidade, no entanto as taxas de crescimento ainda são baixas e a conversão alimentar é pouco eficiente. Por isso avaliar os parâmetros zootécnicos não é suficiente para avaliar o potencial de cultivo no sistema BFT. O objetivo de esta tese é utilizar alguns indicadores fisiológicos e bioquímicos para complementar a informação zootécnica. Assim no primeiro capítulo objetivou fazer uma revisão do trabalho já feito com esta espécie para poder visualizar quais foram os resultados mais importantes obtidos até agora e em quais era importante continuar trabalhando. Encontrando que os principais problemas a resolver eram: Taxa de crescimento muito baixa, sobre todo durante as primeiras cinco gramas, conversão alimentar muito irregular (a ração comercial não considera os requerimentos nutricionais do L. setiferus) e o deterioro dos espermatóforos evitando o estabelecimento de um banco de reprodutores. Entretanto é importante considerar que as sobrevivências são em todas as pesquisas realizadas até agora altas e que a espécie gosta de um médio rico em alimento vivo, característica fundamental do BFT. Diante de essa situação, no capítulo dois, decidimos tentar experimentar com juvenis selvagens e coloca-los no sistema de cultivo com bioflocos em água marinha e de baixa salinidade. Os resultados não mostraram diferencias significativas, entretanto, mostraram animais totalmente estressados particularmente nos sistemas com fluxo contínuo. A interpretação de todos os indicadores foi complicada devido à altíssima atividade do sistema antioxidante e imune. Alta mortalidade e crescimento muito baixo somente nos tratamentos com fluxo continuo de água. Segundo o IBR a maior afetação pelo estresse oxidativo foi o tratamento LSBFT, mais a maior mortalidade foi no tratamento LSCW. Continuamos trabalhando com a coleta e reprodução dos adultos. Tentamos inseminação artificial, fizemos ablação do pedúnculo ocular e conseguimos produzir pós- larvas. Os protocolos de larvicultura que a espécie tem já publicados, funcionaram e conseguimos obter pós-larvas de qualidade para tentar novamente. No capítulo três, implementamos o mesmo experimento, a diferença foi que utilizamos camarões F0, é dizer camarões obtidos da reprodução dos adultos capturados no médio natural e reproduzidos em cativeiro. Colocamos as pós-larvas no dispositivo experimental e os resultados foram mais estáveis, porém, ainda com altos níveis de estresse oxidativo, mais com um sistema imune alerta e um desempenho zootécnico melhorado particularmente no sistema com bioflocos, independentemente da salinidade. O mesmo resultado negativo do experimento anterior, foi obtido com os tratamentos com fluxo contínuo novamente. Assim e diante dos resultados obtidos nos dois primeiros experimentos, fomos para o quarto capítulo implementando um terceiro experimento decidimos retirar os tratamentos com fluxo contínuo e elevar a escala do cultivo. Utilizando tanques de 20 m3 com sistema de bioflocos em água marinha e água de baixa salinidade. Os resultados obtidos são interessantes, a atividade antioxidante esteve presente mais foi a mais baixa dos três experimentos. Podemos detectar que os animais ficaram menos estressados, pelos valores obtidos nas enzimas de estresse oxidativo e a contagem de hemócitos. O sistema imune foi estimulado pela quantidade de hemócitos na hemolinfa dos dois tratamentos. Conseguimos avaliar o consumo de oxigênio no início do experimento, encontramos um alto consumo no tratamento de baixa salinidade, inclusive quando oferecemos alimento. Os camarões simplesmente não conseguiram comer. No final do experimento, após dos 90 dias de cultivo, o consumo baixou e quando a ração foi oferecida, passaram a comer. No tratamento com água marinha, os camarões tiveram do princípio ao fim do experimento um consumo baixo e se alimentaram normalmente. Estes resultados podem complementar ao resto dos resultados mostrando maiores requerimentos fisiológicos no tratamento de baixa salinidade o que deteriora o sistema imune e antioxidante. Uma característica uniforme nos três experimentos é o sistema imune estimulado permanentemente, no sistema com bioflocos. Provavelmente as bactérias presentes nos bioflocos estimulam o sistema imune e eles ficaram melhor preparados para ataques patogénicos. O número de hemócitos presentes na hemolinfa foram maiores aos reportados para a mesma espécie por outros autores em sistemas convencionais de cultivo. Outra questão é que resultou em uma redução da atividade antioxidante no cultivo com tanques maiores, mas somente nos camarões expostos aos bioflocos, independentemente da salinidade. As sobrevivências foram baixas, assim como o crescimento. No entanto, com todo o bom desempenho fisiológico obtido é importante ressaltar que parte das mortalidades ocorridas nos três experimentos, tem relação direta com o manejo e podem ser resolvidas. podemos concluir, que a medida que o sistema com bioflocos madura e se estabiliza, e as condições de cultivo melhoram (infraestrutura, manejo) Litopenaeus setiferus, pode ser cultivada independentemente da salinidade. A espécie apresenta uma condição imunológica estimulada permanentemente. O estresse oxidativo parece diminuir, provavelmente com menor dano celular e o consumo de oxigênio e a energia são dirigidos para o crescimento da espécie. Também foi confirmado que o sistema com bioflocos melhora o desempenho fisiológico, porém, para melhorar o desempenho zootécnico, ainda existe a necessidade de continuar pesquisando sobre questões nutricionais, de balanço iónico e de melhoramento do estado dos reprodutores. Questões que podem estar relacionadas com os benefícios que o sistema com bioflocos oferece, tais como: bactérias que controlam a qualidade da água, bactérias probióticas, abundância e diversidade de micro-organismos que servem como complemento alimentar, podem oferecer as condições adequadas para o melhor desempenho de L. setiferus em sistemas de cultivo, contribuindo para o estabelecimento de protocolos específicos para esta espécie em cultivo com bioflocos.

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